10/06/2010 - 06:52
Marina Silva venceu a pobreza e problemas de saúde para chegar a uma disputa presidencial
Evandro Éboli, Catarina Alencastro e Tatiana Farah
Franzina e de fala mansa, a senadora Marina Silva (PVAC) será lançada oficialmente hoje candidata à Presidência pelo PV com desafios pela frente e um currículo marcado pela superação. Driblou a pobreza nos seringais do Acre, enganou a morte — que levou dois de seus dez irmãos — depois de vencer cinco malárias, três hepatites, a leishmaniose e a contaminação por mercúrio causada pelo tratamento da doença. A hoje presidenciável passou pela Câmara de Vereadores de Rio Branco e pela Assembleia Legislativa do Acre, pelo Senado e pelo Ministério do Meio Ambiente de Lula.
Marina ajudou a incluir assuntos como biodiversidade e desenvolvimento sustentável na pauta nacional. Deixou o ministério em maio de 2008, depois de duelo com os então ministros Dilma Rousseff e Mangabeira Unger por causa dos licenciamentos ambientais. Em 2009, deixou o PT e filiou-se ao PV.
PV ganha visibilidade
Começa a corrida presidencial com a certeza de ao menos uma vitória: a de que será a candidata do Partido Verde com melhor desempenho numa eleição presidencial. O percentual de votos que obtiver em outubro, a não ser que aconteça uma reviravolta, será maior que o 0,18% de Fernando Gabeira, em 1989, e que o 0,31% de Alfredo Sirkis, em 1998. Nas pesquisas eleitorais, a senadora hoje oscila entre 9% e 12%.
Entre os desafios, um tem caráter pessoal, que é forçar a entrada da questão ambiental no debate eleitoral, tentando quebrar a polaridade entre os discursos da petista Dilma Rousseff e do tucano José Serra. Marina terá a incumbência de tirar o partido do nanismo, agregando apoio em torno de suas bandeiras e em prol da ética e dos valores morais.
— A candidatura de Marina é para ganhar. Dos três candidatos, é quem melhor encarna o momento que o Brasil está vivendo e o que seria o pós-Lula — aposta Alfredo Sirkis, um dos coordenadores da campanha.
— A candidatura da Marina já é um sucesso porque elevou o debate dos direitos socioambientais e do desenvolvimento limpo para o patamar da disputa presidencial — afirma André Lima, coordenador de Políticas Públicas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia.
Verdes históricos e dirigentes de ONGs ligadas ao meio ambiente apostam que a candidatura dela vai não só ajudar a aumentar a bancada do partido na Câmara, mas dar uma visibilidade que o partido jamais teve.
Egressa do PT, partido onde militou por 25 anos, Marina tem assumido a posição de ataque ao governo atual e ao passado. A senadora se apresenta como alternativa realmente nova, “alguém que não fará mais do mesmo”, costuma dizer. Lembra que o eleitor, ao votar, estará escolhendo o modelo de desenvolvimento que quer deixar para as próximas gerações.
— Quero convidar o eleitor a transformar o Brasil que temos, para construir o Brasil que queremos — resumiu ela ao Globo.
— A presença da Marina acaba com a ideia de que discutir meio ambiente é falar de bichinho e de florzinha. É mais. É tratar de crise climática, avanço econômico com desenvolvimento sustentável, economia verde. Isso é o moderno — disse Paulo Adário, coordenador da campanha Amazônia do Greenpeace.
Nem só de meio ambiente está composto o programa de governo de Marina. Entre suas bandeiras, a criação de programas sociais da chamada terceira geração, focados na educação e na capacitação dos beneficiários do Bolsa Família. A ideia é colocar pessoas hoje abaixo da linha de pobreza no mercado profissional. Outro tema precioso é a educação. Alfabetizada aos 16 anos, ela defende a criação de um Sistema Único da Educação.
— Comecei a estudar em setembro de 1975, fiz o Mobral e me alfabetizei em 15 dias. Fiz o primário em menos de três meses e terminei, depois o Primeiro e o Segundo grau em menos de três anos — lembra Marina.
Casada, mãe de quatro filhos, Marina é evangélica e integrante da Assembleia de Deus. Contrária ao aborto, propôs um plebiscito para que a população possa decidir sobre o tema. Filiada a um partido quase invisível, sem direito a inserções na TV e tempo exíguo de propaganda eleitoral, ela foi buscar na modernidade eletrônica o nicho para conquistar eleitores. Em blogs, no Twitter e no Youtube, a campanha ganha visibilidade.
Para o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que discursa hoje, Marina venceu a primeira fase da pré-campanha ao conseguir se firmar como candidata, com projeto próprio e conectada a uma mídia eletrônica alternativa.
— Marina conseguiu a simpatia dos jovens, e há espaço para crescer, apesar do pouco tempo de TV — diz ele.
Marina pediu a ajuda do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para montar um sistema que vai mapear as áreas de risco nas metrópoles e em outros 500 pontos do país. O objetivo é alertar pessoas que moram nessas áreas para evitar mortes.
A candidatura de Marina é tida como novidade na campanha, polarizada entre petistas e tucanos. Já se atribui a ela peso decisivo num eventual segundo turno entre Serra e Dilma. Para o lado que a senadora pender, estaria o vencedor do pleito. Um aspecto favorável a Marina é que dificilmente ela terá oposição nessa campanha. Até partidários de outras candidaturas a elogiam.
— Marina tem uma história de vida exemplar, goza de respeito até fora do Brasil, por suas lutas ambientais. Trouxe o debate sobre o meio ambiente para a campanha — diz o deputado Jorge Khoury (DEM-BA), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara.
Relembrando momentos importantes de sua carreira ao Globo, Marina elegeu a morte do ativista Chico Mendes como um marco.
— Foi um momento triste, uma sensação de desamparo. Em mim nasceu um grande senso de responsabilidade com a causa ambiental. Não tem mais Chico Mendes, e agora a responsabilidade é nossa. O que era feito por um, precisaria ser feito por todos. Continuo tentando fazer a minha parte até hoje.