"Temos que buscar novas tecnologias"


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A senadora Marina Silva com o presidente do PV de Maringá, Alberto Abraão
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De O Diário do Norte do Paraná
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Integrar ambiente e agricultura é a meta

Vinícius Carvalho
vcarvalho@odiariomaringa.com.br

A senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (PV-AC) esteve na quinta-feira na região de Maringá, onde passou o dia com a família. O motivo da visita foi a formatura da filha caçula Mayara, 17 anos, que acaba de concluir o ensino médio no Instituto Adventista Paranaense, de Ivatuba.

A reunião familiar foi uma pequena brecha na intensa agenda da senadora, que na tarde de sexta-feira, embarcou para Copenhague, capital da Dinamarca e sede da cúpula climática mundial. No encontro que define limites para o aquecimento global, a senadora é uma das personalidades mais esperadas.

Em 2007, Marina foi apontada pelo periódico britânico The Guardian como uma das 50 pessoas que podem ajudar a salvar o planeta. Para a senadora, as mudanças no Código Florestal são nefastas e modificam leis que levaram anos para se consolidar .

“Ajustes podem ser feitos, são necessários, mas não no sentido de um rebaixamento, que será prejudicial inclusive para a agricultura”, comenta a senadora, que defende o uso da tecnologia da Embrapa para resolver o conflito entre preservação e produção.

Marina acredita que a meta brasileira em Copenhague - redução de 38,9% nas emissões de CO2 nos próximos anos - funcionará como uma forma de constrangimento ético para as nações poluidoras. Nesta entrevista, a senadora diz que a mensagem dela na cúpula global será de persistência.

“A oposição entre ambientalistas e ruralistas não é boa. Neste século, teremos que resolver duas situações: como desenvolver protegendo e como proteger desenvolvendo’’.

“A mensagem não é de otimismo, porque, infelizmente, a responsabilidade ética e política da maioria das autoridades do planeta está muito aquém do que ele precisa’’.

O Diário - Com a aproximação de 2010, a tendência é a de que o ritmo de trabalho tome cada vez mais o tempo da senadora para a vida pessoal? Como a senhora se prepara para esta fase?

MARINA SILVA - Como fiz até hoje. Sempre tive uma agenda muito pesada. Quando era ministra, andei pelo País inteiro, tenho visitado e conhecido o Brasil nos últimos 14 anos. Também tenho qualificado cada vez mais o contato com a minha família e com os meus amigos. Estou aqui (em Maringá) para a formatura da minha filha de 17 anos, que concluiu o segundo grau no Instituto Adventista Paranaense (IAP). Depois retorno para Brasília e vou direto para Copenhague, para a convenção do clima.


O Diário - Uma das mais importantes discussões nesta semana foi sobre o Código Florestal, que divide produtores rurais e ambientalistas. Como alcançar o equilíbrio entre a produção e a preservação?

MARINA SILVA - Vejo que essa oposição entre ambientalistas e ruralistas não é boa. Vivemos um século em que teremos que resolver duas situações: como desenvolver protegendo e como proteger desenvolvendo.
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No meu entendimento, a mudança que está sendo proposta para o Código Florestal é nefasta. Mexe em legislações que demoraram mais de 20 anos para serem consolidadas, entre elas a lei que estabeleceu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, a lei dos crimes ambientais, a lei que estabelece a gestão de florestas públicas, mudando as atribuições do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
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Isso é uma atitude, de setores que não compreenderam ainda que nós, no lugar de mudar o texto, temos que passar no teste. Isso se faz procurando a inovação tecnológica adequada para produzirmos mais, utilizando cada vez menos recursos naturais. Todos sabem que quando as florestas são destruídas, perdemos os recursos hídricos.
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Quando não cuidamos adequadamente da terra, perdemos a produtividade. No Brasil, já temos 70% de área degradada. É fundamental um esforço para que se consiga a integração entre meio ambiente e agricultura sustentável, em uma mesma equação.
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Temos que buscar as novas tecnologias da Embrapa, que já desenvolveu inovações que permitem o aumento da produtividade sem precisar passar por cima da legislação. Ajustes podem ser feitos, são necessários, mas não no sentido de um rebaixamento, que será prejudicial, inclusive, para a agricultura.