ENTREVISTA DO CANDIDATO ALBERTO ABRAÃO DO PARTIDO VERDE DE MARINGÁ NO O DIÁRIO

O futuro do advogado maringaense Alberto Abraão Vagner da Rocha (PV), 55 anos, na disputa eleitoral de Maringá ainda é incerto. A candidatura está sub judice e deve ser julgada esta semana. No capítulo mais recente, quinta-feira passada, ele viu ser derrubada pelo Tribunal de Justiça a liminar que barrava a intervenção da executiva estadual no diretório local.

Fotos/Ricardo Lopes
O PV estadual quer uma coligação majoritária com o PT e proporcional com o PDT - contrariando a convenção municipal, que optou pela candidatura própria, sem coligações.
Casado com a assistente social Silvana Borges e pai de dois filhos, Alexandre, 26, e Ana Carolina, 22, Vagner da Rocha defende uma administração voltada para a melhoria da qualidade de vida, resgatando o que, avalia ele, teria sido deixado de lado:o conceito de que Maringá foi elaborada pensando em um modelo urbano que garantisse o bem-estar da população.
Ele fala em uma administração utópica, assim como, segundo ele, era uma utopia a ideia de se implantar o modelo inglês de cidade-jardim no Brasil.
Caso a candidatura vingue e Vagner da Rocha seja eleito, sua primeira medida será valorizar os servidores municipais.

Esta entrevista é a primeira de uma série com todos os candidatos, nas próximas sete edições de domingo. A ordem das entrevistas foi definida por sorteio, na presença de representantes dos candidatos.

O DIÁRIO - Caso a Justiça confirme a intervenção do diretório estadual, o senhor vai aderir à campanha de algum candidato?

ALBERTO ABRAÃO VAGNER DA ROCHA - Não faria isso porque a gente tem que separar a questão política da questão emocional. Temos um projeto na cabeça, não cogitamos essa hipótese, mas se eventualmente acontecer, não tomaríamos nenhuma atitude dessas porque prejudicaria o Partido Verde ainda mais.

Nossa atitude não é pessoal, é um projeto partidário. Tanto que o projeto foi decidido em convenção, nós elegemos um diretório que se mantém firme.

Tanto é que as cinco pessoas que saíram para fortalecer essa tese de uma coligação já no primeiro turno foram sozinhas, nós ficamos com 18 candidatos a vereador. Os que saíram não tiveram apoio da maioria. Estamos com o lançamento da nossa candidatura organizado para o dia 10 de agosto.


Qual deve ser o mote da campanha do senhor?

É no sentido de trazer as bandeiras do Partido Verde em harmonia com as necessidades que a cidade tem e a compreensão mundial dos princípios da sustentabilidade,que é a busca do equilíbrio para conquistar uma melhor qualidade de vida.


Porque o senhor quer ser prefeito?

Primeiro, porque me acho em condições e conheço bem da estrutura pública e administrativa da cidade. E vejo que um dos principais problemas que a cidade tem não é de estrutura, é de adequação do modo de gestão e das prioridades.

Nós podemos, com os princípios e valores que o Partido Verde professa, estabelecer uma alteração de formas e de prioridades que hoje Maringá tem. Por exemplo, nós temos que discutir, necessariamente, a questão urbanística, porque ela influencia diretamente na qualidade de vida das pessoas.

Maringá foi criada dentro de uma concepção de cidade-jardim, que surgiu na Inglaterra. Essa inspiração era utópica. E nós conseguimos criar uma cidade bela, gostosa, planejada,dentro do que era uma utopia. Antes, ou você morava no campo ou morava na cidade.

Esse movimento tentou aliar os dois --morar na cidade com paisagens que garantissem o conforto. Agora, estamos vivendo um outro movimento, que nasceu nos anos 70, impulsionado pelas ideias ambientalistas. Quero ser prefeito para atualizar o projeto utópico que Maringá tinha. Uma nova utopia, de uma comunidade próspera economicamente, mas justa socialmente e feliz.


Qual seria o primeiro ato do senhor como prefeito?

Vou convocar todos os servidores, que é o maior patrimônio que o município tem, para realizar as transformações necessárias. Faria um pacto com os servidores, para reconhecer que neles encontra-se as soluções que Maringá precisa.

A administração dará a eles as condições e o ambiente de trabalho necessários para que possam se desenvolver. Capacitação, valorização, um plano de cargos e salários que assegure um planejamento de vida,para que a prefeitura não seja um ponto de passagem, mas um destino deles.

Hoje, nós temos servidores recebendo um abono para complementar o salário mínimo. Como é que você quer uma cidade, com as condições que Maringá tem economicamente, se quem executa os serviços está trabalhando em um situação inadequada e insatisfatória?


Um dos problemas ambientais de Maringá é o lixo. Como o senhor pretende tratar esse assunto?

Nós cumpriremos a lei. Hoje é até inadequado você falar em lixo, porque de tudo aquilo que é jogado, 80% é matéria-prima. Esses resíduos da dinâmica do consumo devem ser trabalhados vislumbrando a economia que eles podem gerar.

Temos que priorizar a estruturação de incentivo às empresas que trabalham com a visão de reaproveitamento, reciclagem . É possível você construir aqui, em termos locais, essa estruturação. Não só em Maringá, temos que ter uma visão voltada para a Região Metropolitana, mais ainda para as cidades conurbadas, Sarandi e Paiçandu.


Qual a diferença do senhor para os outros candidatos?

Sou militante do Direito há 28 anos. Exerço advocacia na área pública. As profissões influenciam muito na sua vida. Por exemplo: quem trabalha com Direito, necessariamente pensa em Justiça. Dentro da nossa profissão, há uma obrigação ética de lutar pels melhoria das instituições.

Isso tudo me fez criar uma visão de não podemos mais tratar a política como ela vem sendo tratada. Hoje nós nos encontramos como aquelas jovens anoréxicas, que não querem comer achando que vão ficar bonitas. Tem muita gente que não quer participar da política para não se corromper, para não se sujar.

Em ambas situações você morre. O anoréxico morre individualmente, o ser que não pratica política morre socialmente, e a socidade morre com ele. Quero resgatar o espírito de cooperação que existia entre os nossos pioneiros e que hoje está se fragilizando.


Por que o eleitor deve votar no senhor?

Como maringaense que gosta muito da cidade, que acompanha a história, acho que o município tem uma missão. Maringá foi criada para ser uma cidade onde as pessoas vivam de forma confortável e feliz, e nós temos que garantir isso.

Esse é o grande plano diretor da cidade. Nós precisamos cuidar disso , porque Maringá está perdendo um pouco dessa qualidade. Embora ainda seja muito boa para se viver, muitos desses valores se perderam.

Nossa arborização, que é importantíssima, nossos córregos, nossos bosques, foram deixados de lado. Temos que cuidar da cidade como no passado.


Existe algum setor que o senhor considera crítico?

Um deles é o trânsito. Temos que incentivar o transporte de massa. O congestionamento em Maringá está uma loucura. As mortes no trânsito em Maringá já não são acidentais, são previsíveis. Nesse primeiro semestre,tivemos uma grande maioria de mortes sendo de motociclistas.

E por que eles? Porque o preço do ônibus é alto, então eles optam pela moto, que é mais em conta. Nada contra a TCCC, mas nós precisamos ter um transporte que ofereça qualidade para tirar os problemas da rua. Nós queremos que mais gente ande de ônibus.

O Lula (ex-presidente)fez com que o pobre experimentasse o carro e pudesse ter acesso ao automóvel. Nós temos que fazer com que a classe média e alta comece a usar o transporte coletivo, goste e passe a usar. O transporte coletivo humaniza as pessoas.


Existe algo mais que o senhor acha importante acrescentar?

É o que o processo eleitoral deve se tornar. Para mim, o processo eleitoral é um grande momento de festa cívica, em que as pessoas devem prestar atenção para se educar. É um momento pedagógico.

É um mínimo de esforço, para que uma cidade seja organizada e administrada de forma sustentável. Muita gente às vezes quer o resultado eleitoral.

Mas a influência que você pode exercer no eleitor, mesmo não ganhando, de que ele passe a exigir um comportamento novo dos políticos é fundamental.